quarta-feira, 7 de agosto de 2013

ERA UMA VEZ UM TRAVESSO

Era uma vez um travesso, travesso só o final da palavra: avesso. Então, o conto começaria assim, se tivesse começado. Era uma vez um avesso, no mínimo estranho, canhoto de pé e de mão. Nunca respondeu à altura, respondia à profundidade. Porque tudo tinha que ser o contrário. Todo mundo batia o pé. Mas ele teimava. E incomodava... A cada resposta estranha, vinha mais desprezo, até que sua fama se espalhou pelo lugar. No dia do seu apedrejamento o céu estava azul às três da tarde. A cidade se ajuntou. Avesso não temeu. O primeiro inquisidor já segurava a sua pedra, "vou acertar-te o olho", avesso respondeu qualquer coisa que não fazia o menor sentido àquele ímpio tribunal. A pedra ia, mas de repente, ao invéz, rebentou tanto olho direito quanto o nariz do tirano. O segundo se arriscou. Ainda mais pretencioso. "Vou acertar-te a cabeça." Avesso respondeu qualquer coisa que não fazia o menor sentido àquele ímpio tribunal. A pedra ia, mas de repente, ao invéz, fendeu o crânio do algoz.

08 de julho de 2013

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